Docente da AESO-Barros Melo faz análise sobre como a tecnologia transformou a indústria da música
Por trás do som que você escuta existem soluções tecnológicas que, provavelmente, não faz ideia. A evolução na forma de gravar, difundir e manipular o áudio modificou a relação das pessoas que fazem da música uma arte, como também das que ouvem e consomem esse tipo de conteúdo.
Até a chegada da fonografia, o som era um material que só poderia ser acessado posteriormente através de recursos da memória individual, ou alguns tipos de escrita. Até que, com o advento da gravação em suportes, foi possível realizar a reprodução subsequente do áudio gravado, e também a difusão em distâncias até então impossíveis de percorrer, mudando todo o cenário musical.
Esse movimento gerou novas demandas e também eliminou alguns antigos costumes de consumo. Nos anos 90, por exemplo, os lançamentos em áudio eram ansiosamente aguardados pelos fãs, que esperavam passar nas rádios os novos sucessos das bandas preferidas. Só que, para guardar a música, e conseguir escutá-la novamente, era necessário deixar o gravador pronto para registrar - em fita cassete - a faixa escolhida. Agora, essas divulgações são realizadas através de canais de streaming, onde podem ser acessados quantas vezes o usuário quiser, além de oferecer opções de compartilhamento nas redes sociais e nos mais diversos canais de música, o que potencializa a chamada “divulgação boca a boca”, podendo levar, em poucos minutos, a nova gravação ser um dos assuntos mais comentados no mundo.
Porém, a tecnologia não deixou os tradicionais discos sumirem completamente das prateleiras dos apaixonados pela música: “O meio físico como veículo único de consumo de música gravada ficou obsoleto, porém não foi extinto. As pessoas que cresceram vinculando o acesso à música com a aquisição do suporte ainda não se acostumaram com a ideia de que toda a produção musical, que existe no mundo, pode ser acessada via rede. Por outro lado, o suporte físico atua como uma forma de limitar as escolhas, o que facilita muito na construção de uma fonoteca pessoal”, comenta Zé Guilherme, músico e professor do curso de Produção Fonográfica da AESO-Barros Melo.
Ainda segundo o docente, o mercado fonográfico vive ciclos contínuos de adaptação e readaptação: “É muito importante olharmos para estas ferramentas e para os meios que temos à disposição tendo consciência de que estamos quase entrando na terceira década do século XXI. Se, por um lado, perdemos algumas coisas que poderíamos considerar como vantajosas, por outro, há muitas possibilidades que, naquela época, não eram nem imaginadas”, pontua.